Estará bevemente disponível, nas livrarias, um novo livro do escritor Nobel sempre adiado, António Lobo Antunes (ALA em diante): Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar?
A sessão de lançamento decorrerá no Teatro S. Luís, amanhã, pelas 18.30. Por ocasião deste lançamento, ALA concederá uma entrevista a Judite de Sousa, na RTP1, logo após a sessão ter lugar.
Hoje tive oportunidade de ouvi-lo, na Antena 2, a respeito deste seu novo trabalho.
Apesar de nunca ter lido nenhum livro do ALA, por opção pessoal, gosto de ouvi-lo falar sobre a sua actividade, mais do que não seja, por considerar que ele adopta uma atitude curiosa e intrigante sobre a sua profissão. Ao contrário do que muitos escritores defendem, como por exemplo Mia Couto, ALA afirma que não se interessa nada por contar histórias, tratando cada livro seu "do que vem lá dentro", disso e nada mais do que isso.
Na verdade, não existe nenhum curso que habilite seja quem for a escrever. A profissão de escritor acontece porque algum factor que se desconhece assim o determina.
ALA defende aquilo que Bach já defendia em relação à sua genialidade enquanto compositor, qualquer um pode fazer tão bem ou melhor do que ele próprio, desde que trabalhe. Ou seja, para ALA não há magia, intuição, inspiração que salvaguarde um escritor do empenho e do trabalho diário que a escrita exige. Para confirmar esta teoria, confessava que tinha estado, no dia anterior, oito horas para escrever apenas três páginas.
A dar razão a ALA, o que fazemos com o que conta Fernando Pessoa, na sua carta a Adolfo Casais Monteiro, sobre o aparecimento de Alberto Caeiro?
"Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro."
"Para escrever é preciso orgulho, paciência e solidão." Segundo ALA, estes serão os requisitos para fazer da escrita o lugar de onde se aprecia o mundo.
2 comentários:
Olá!
Muito interessante este assunto.
Há um poeta brasileiro que gosto muito, o Eucanaã Ferraz, que, na última Feira Literária de Parati - FLIP, declarou que para ele se trata de 100% inspiração + 100% trabalho. Concordo com ele.
Beijos!
Pois recomendo-lhe vivamente que leia Lobo Antunes (o António - andam por aí outros).
Não tem uma escrita fácil; muito pelo contrário. Mas retrata de forma grandiosa a aventura humana.
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