quarta-feira, março 07, 2012

*Insurpreendidos

E quando queremos surpreender alguém e não conseguimos?
Isso é ser completamente inútil?
Ingénuo?
Incapaz?

 - Pai, estás em casa?
- Não, filha, vim ver o Benfica, estou com uns amigos.
- Onde?
- No Retiro.
- Ah...
- Mas não me vês hoje, vês amanhã.
- Mas quero contar-te uma coisa.
- Contas amanhã.
(Pai, não percebes que tenho uma bola aqui dentro, pronta a explodir, e não posso esperar que o jogo acabe, quanto mais aguentar que chegue amanhã!).
- ...

Primo a campaínha.
(silêncio)
Demoram a abrir-me a porta da rua.
Vejo luz na janela da casa de banho.
Dão-me permissão para entrar. Entro.
Primo, mais uma vez, a campaínha. Desta vez, já estou na porta de entrada.
Oiço, do outro lado, voz e braços agitados, a comprimir contra a porta todas as forças e poderes do mundo natural e sobrenatural:
- Santiago?
- Sim.
- É a tia. Consegues abrir a porta?
- Sim.
- E vais demorar muito a abri-la?
- Não.
Consigo perceber, rapidamente, que a porta está fechada à chave e que ele não conseguirá abri-la sozinho.
- A avó?
- Está a tomar banho.
(Mãe, tenho uma bola aqui dentro, pronta a explodir, e não posso esperar que o teu banho acabe, quanto mais esperar pelo dia de amanhã).
- ...

Não fui capaz de surpreender seja quem for. O que não me surpreende.


*Insurpreendido: Palavra inexistente, mas possível, da Língua Portuguesa.
adj. Que não foi surpreendido.

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