Estou com dificuldade em concentrar-me.
Qualquer pretexto serve para me afastar do trabalho. Passei a última meia hora a olhar para as copas das árvores a abanar com o vento. Contei as árvores. Tentei contar os ramos, mas não passou disso mesmo: uma tentativa.
No telhado, há aquilo que deduzo ser pedaços de pão. Alguém, como eu, alivia o seu mal-estar a distribuir pão aos pássaros. Só vejo os pedaços de pão. Pássaros não.
Vejo os carros. Distingo-lhes a cor. Vou contá-los. As motos também contam como carros? Não me parece.
(sono)
Queria regressar. Não consigo. O meu cérebro paira algures longe de mim. Fora de mim. Tem asas.
(...)
Chegou um pássaro. Pequenino. Está a dar bicadas ao pão. As suas penas voam como árvores.
As minhas penas crescem. Têm troncos e raízes. Só não têm verde.
Vou sair. Procurar as asas e cortá-las: RIP.
Um comentário:
"(...) sábios, estudiosos do arco-íris e de coisas transparentes, afirmam que as asas dos homens crescem mesmo depois de cortadas, e novamente cortadas voltam a ser." José Fanha
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