Regressei hoje de uma semana de férias, onde estive embrenhada em filho e família. Já por si, o regresso advinhava-se confuso e atribulado, não é fácil passar de mãe a empresária. Parece simples, quando os dois territórios convivem diariamente.
Estava eu sentada, em frente ao computador, a despachar mails, quando recebo uma chamada da secretária do meu administrador a convocar-me para uma reunião com um director de uma das nossas delegações. Aquela convocatória atingiu-me em cheio: já não estava de férias.
Vesti o casaco e, célere, dirigi-me para o encontro. Principiava a chover, a tal chuva-molha-parvos - a que me molha sempre e da qual nunca tiro ilacções de qualquer natureza a não ser que é chuva e que me molha -, o piso estava escorregadio, incompatível com os meus sapatos de cinderela, com os meus calções-corsário e os meus collants pretos: escorreguei e estatelei-me. Fui tão rápida a cair quanto a levantar-me da queda. Só pensava "eu caí", "eu ca-í"! Depois de olhar rapidamente para a minha figura: ambos os joelhos em sangue e as mãos sujas do alcatrão, achei que seria mais sensato regressar ao edifício do que enfrentar uma reunião séria com o administrador e o director.
Subi o mais rápido e cabisbaixa que pude ao gabinete da secretária do meu departamento que me fez o favor de ligar, a rir comó-caraças, para avisar o sr. administrador de que a Dr.ª Sófi ia atrasar-se um bocadinho para a reunião. Entre gargalhadas, lá me deixou lamber as feridas e ajudou-me a desinfectá-las com algodão embebido em água oxigenada e betadine.
O problema não foi estancar o sangue, mas arranjar uns malditos collants que substituíssem os meus: "Não, esses são demasiado claros, vê-se as feridas. Esses demasiado pequenos, tenho pernas até ao pescoço."
Resignei-me e optei por aqueles que me pareceram ocultar melhor as mazelas e que não me ficassem no meio das pernas.
Aproveitei um momento de maior recato para tirar os collants velhos e substituir pelos novos. Ingénua, pensei que a porta estivesse trancada, mas esse pensamento só durou até ao momento em que um colega entrou pelo gabinete dentro, vendo-me de pernas desnudadas e collants nas mãos. Lembro-me apenas de ter berrado, dos olhos dele se arregalarem e da porta se fechar instantaneamente.
Nunca mais o vi. Se não aparecer em breve, terei de ligar para a polícia a dar parte do seu desaparecimento. Das duas uma: ou as minhas pernas o motivaram para fantasias maiores do que as imagináveis ou provocaram nele o temor, o embaraço e a vergonha. Não sei qual delas prefire. Talvez a segunda, pois estando com ele o ónus do embaraço, eu ficaria livre para rir até morrer da minha figurinha desconjuntada, desnudada e frágil ante um dia de trabalho que eu já previra difícil...
3 comentários:
ahahahah :-)
lololol :-)
Ok... já me conheces...
Sabes quando choro a rir??
AHHAHAHAHA és mesmo parecida comigo, raios!!! :-D
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