Um dos meus maiores e mais sentidos medos era, em tempos, esquecer-me de ir buscar o meu filho ao infantário. Acordava a meio da noite, em pânico controlado e controlável, a refazer mentalmente o dia anterior e a certificar-me de que ele dormia, tranquilamente, no quarto ao lado.
Ontem acabei por perceber a razão deste meu medo. Não era a insegurança da maternidade. Não era a insegurança dos meus verdes anos. Era o conhecimento objectivo de que sou uma esquecedora e uma abandonadora profissional.
Desde o início deste ano, eu e um colega que mora na minha zona tomámos a decisão consciente de fazer algumas viagens por semana juntos. Ganha o ambiente, ganha a carteira e ganhamos os dois que, em vez de virmos a pensar na própria vida, conversamos um com o outro sobre o que nos apetecer. Se não nos apetecer, também não conversamos.
Ontem abandonei o meu colega nas instalações da empresa onde trabalhamos. Vim-me embora sem qualquer peso na consciência. Larguei-o sem olhar para trás e cheguei a casa cheia de mim.
Só hoje de manhã, quando lhe retornei uma chamada telefónica - tentou falar comigo ao final do dia, sem sucesso - é que percebi que me tinha esquecido de lhe dar boleia de volta para casa...
3 comentários:
Comento pouco, mas leio muito do que escreves... Quase tudo. E, gosto muito...
Obrigada Maria.
Não por comentares, mas por leres. Só alguém muito generoso pode dedicar parte do seu tempo às coisas tão são importância que escrevo.
E que boa surpresa foi ler o que escreves. Gostei. Gosto. Uma lufada de ar fresco neste ar trépido e abafado em que nos movemos... quase todos.
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