quinta-feira, janeiro 28, 2010

Ao amor, sem porquê, como ou quando


não é o teu rosto, masculino, de traços aveludados, perfumados a sal
não é a tua voz, melodiosa, serena, que omite mais do que revela
não são os teus gestos, descoordenados, nervosos, impossíveis de conter num segundo de quietude
não são as tuas palavras, inseguras, imprecisas, frágeis contra a segurança, a precisão e a rectidão das minhas
não são os teus sentimentos, leves, límpidos, libertários, mas nunca libertinos
não é o que escondes, de mim, dos outros, de ti mesmo
não é o que revelas, sempre devagar,  numa linha que tu mesmo desenhas, ainda que sem régua ou esquadro
não sei o que é, ainda assim, sei que o que não é mais o que não sei o que é te tornam num ser de excepção
num ser que vale a pena ir achando aos poucos, saboreando de levezinho cada nova descoberta e deixar que o arrebatamento aconteça porque sim; porque ao amor não são devidos comos, quandos ou porquês...

3 comentários:

Anônimo disse...

Tanta pena que nem a toda a gente fosse dado o "direito" de caber estas razões para o amor: "porque ao amor não são devidos comos, quandos ou porquês...". Se as definições fossem elásticas...
Emídio

Anônimo disse...

Qual Jorge de Sena... esta prosa SIM, é uma ode ao Amor.
Ainda mais especial por ser um Amor anti-platónico, por ser O Amor, como, afinal, todos deveriam ser...
Obrigado por partilhares este sentimento único com todos nós.
Beijos,
Platão :)

FigueiRita disse...

Nem valem a pena as perguntas... Com ele dá-me vontade de te dizer... Agora sim. :-)