Terminei mais um livro, daqueles que se interpõem quando estamos com a nossa atenção focalizada em um outro. Este livro, exactamente porque me roubou a atenção do primeiro, foi soberbo do princípio ao fim e devolveu-me a certeza de que os livros ensinam, educam e nos fazem empreender as mais ousadas viagens. Com este livro, como se sentada a bordo de um qualquer avião, fui até ao Afeganistão e permaneci lá desde 1964 até Abril de 2003. Assisti, por dentro, à história de um país em permanentes convulsões políticas, que arrastam e modificam todas as outras. Fui Mariam e fui Laila. Fui Tariq e fui Rashid. Fui também um pouco de Aziza e de Zalmai; e fui sobretudo eu mesma, tentando encontrar respostas para perguntas que nem desconfiava ter.
(hoje, depois daqueles segundos em que, estremunhada, faço o reconhecimento rápido do lugar onde acordo, vi-a. estava lá, inerte, atirada como que ao acaso: verde, amachucada, inútil.)
O livro chama-se Mil Sóis Resplandecentes e o seu autor é Khaled Hosseini, autor de um sucesso editorial: O Menino de Cabul (que eu não li). Não sei se foi por o livro contar a história de duas mulheres, ao mesmo tempo que conta a história do país que elas habitam, se foi por passar-se no Afeganistão que eu só descobri ser um país do mundo, após Osama Bin Laden (que nem sequer é afegão), mas a verdade é que o livro me encarcerou e me provocou, em vários momentos, os mais diversos sentimentos. Melhor, transformou-me. E eu gosto quando isso acontece. Sinto que é importante que os livros tenham a capacidade de nos modificar, por mais insignificantes que essas mudanças sejam, ou invisíveis a olho nu.
(só que - se assim não fosse, nem perderia tempo a escrever sobre ela - aquela carica verde, amachucada, inútil tornou-se, de repente, no objecto com mais significado entre os poucos que habitam o meu quarto. estiquei a mão, acaricei-a entre os dedos e decidi guardá-la comigo, fazer dela um impulsionador de memórias - o tempo é inexorável a destruir as memórias que gostaríamos de guardar -, ela devolver-me-á a sensação única do quente, do aconchego dos braços, dos abraços também, das mordidelas doces, do desejo reprimido no silêncio, dias a fio, das palavras que não poderei proferir e do brilho intenso de felicidade escrito nos meus olhos. ela lembrar-me-á igualmente que a vida é um jogo perturbador entre o que revelamos e o que ocultamos ou entre princípios e fins; para este fim, que venham todos os princípios, porque eu, confesso-o, desejo mais caricas verdes, amachucadas, inúteis, perdidas pelos cantos que o meu quarto tem...)
"Laila, minha querida, o único inimigo que um afegão não consegue derrotar é ele próprio." (fala de Babi) Eu pergunto: não é assim com todos nós? Não somos nós mesmos o único inimigo que não conseguimos derrotar?
(vou pegar na minha carica entre as mãos e esquecer o que sinto: que esta carica foi só o princípio de um fim conhecido desde... o princípio.)
(hoje, depois daqueles segundos em que, estremunhada, faço o reconhecimento rápido do lugar onde acordo, vi-a. estava lá, inerte, atirada como que ao acaso: verde, amachucada, inútil.)
O livro chama-se Mil Sóis Resplandecentes e o seu autor é Khaled Hosseini, autor de um sucesso editorial: O Menino de Cabul (que eu não li). Não sei se foi por o livro contar a história de duas mulheres, ao mesmo tempo que conta a história do país que elas habitam, se foi por passar-se no Afeganistão que eu só descobri ser um país do mundo, após Osama Bin Laden (que nem sequer é afegão), mas a verdade é que o livro me encarcerou e me provocou, em vários momentos, os mais diversos sentimentos. Melhor, transformou-me. E eu gosto quando isso acontece. Sinto que é importante que os livros tenham a capacidade de nos modificar, por mais insignificantes que essas mudanças sejam, ou invisíveis a olho nu.
(só que - se assim não fosse, nem perderia tempo a escrever sobre ela - aquela carica verde, amachucada, inútil tornou-se, de repente, no objecto com mais significado entre os poucos que habitam o meu quarto. estiquei a mão, acaricei-a entre os dedos e decidi guardá-la comigo, fazer dela um impulsionador de memórias - o tempo é inexorável a destruir as memórias que gostaríamos de guardar -, ela devolver-me-á a sensação única do quente, do aconchego dos braços, dos abraços também, das mordidelas doces, do desejo reprimido no silêncio, dias a fio, das palavras que não poderei proferir e do brilho intenso de felicidade escrito nos meus olhos. ela lembrar-me-á igualmente que a vida é um jogo perturbador entre o que revelamos e o que ocultamos ou entre princípios e fins; para este fim, que venham todos os princípios, porque eu, confesso-o, desejo mais caricas verdes, amachucadas, inúteis, perdidas pelos cantos que o meu quarto tem...)
"Laila, minha querida, o único inimigo que um afegão não consegue derrotar é ele próprio." (fala de Babi) Eu pergunto: não é assim com todos nós? Não somos nós mesmos o único inimigo que não conseguimos derrotar?
(vou pegar na minha carica entre as mãos e esquecer o que sinto: que esta carica foi só o princípio de um fim conhecido desde... o princípio.)
3 comentários:
Estamos em constante mutação e aprendizagem e isso é bom... Essa carica de que falas tem de ser guardada e... é tão bom recordar. Tenho recordações que ainda hoje mexem comigo, que me permitem ao fechar os olhos lembrar do gosto, do cheiro, do que senti quando tudo aconteceu... reviver o momento, portanto e... é tão bom poder fazê-lo. Sinto que vivi e continuo o fazê-lo... sei que estou no caminho certo porque quando olho para a minha caixa de recordações... sei que não as guardei em vão. Todas estão ali por uma Boa Razão.
Devo dizer-te que ontem quando saí de tua casa para regressar à minha... senti-me bem. Senti que entendeste que estar ali não me estava a fazer bem. Foi muito bom sentir que não te sentiste magoada por sair mas... antes... compreendeste e aceitaste. Nem sempre fazemos o que gostaríamos de fazer, e eu gostaria de ter podido ficar, mas temos de nos respeitar e eu já aprendi isso. Respeitei-me e saí. Obrigada pela tua atitude. Beijo
Não entendo a necessidade desse agradecimento. Acho que não poderia ter qualquer outra atitude. Ainda bem que foste embora; é que houve alturas em que eu própria me apetecia ter ido embora, só que, ao contrário de ti,ainda não aprendi a respeitar-me.
Em relação às memórias ou recordações, sou pouco voltada para elas: eu prefiro o futuro. Só que tu sabes e eu sei que há coisas que, de tão especiais, merecem ocupar-nos por inteiro. Aquela carica é um exemplo disso.
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