Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.
Sophia de Mello Breyner Andresen, "As Ondas"
Escolhi a marginal, hoje cedo, para fazer a travessia. O dia estava incrivelmente bonito. Talvez estivesse inexplicavelmente bonito. O mar era atravessado por braços de prata vindos do céu, que, múltiplos, se estendiam pela água, atribuíndo-lhe brilhos inenarráveis. O sol aquecia devagar a minha pele, filtrado pelo vidro do carro. O rádio estava sintonizado na Comercial, o Vasco Palmeirim, a Vanda Miranda e o Pedro Ribeiro têm uma energia que me comove, ainda que eu não os ouvisse, pois a minha atenção centrava-se somente na paisagem que me rodeava: a marginal tem um encanto muito próprio, que lhe é proporcionado pelo mar, que a limita.
À medida que avançava, fui reparando na vida que acontecia por ali. Reparei que, àquela hora, já havia pessoas no mar, dentro dos seus barcos. Não sei se à pesca, se em veraneio. Uns poucos aproveitavam para fazer a sua corrida matinal, ao vê-los , invejei-os. Invejei igualmente os pássaros que pareciam estar ali de propósito para tornar o quadro ainda mais especial.
Jamais poderia abandonar a paisagem que o mar me oferece. Mudar de país, sim; mudar de cidade, também, mas sempre, sempre com o mar por perto. Desconfio que é porque o mar tem a capacidade de parecer o mesmo em qualquer parte do mundo, levando-nos a criar a doce ilusão de familiaridade, que nos conforta a alma na distância.
4 comentários:
Belo texto.
Cumprimentos.
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Sou vaidosa. Não há hipótese, se assim não fosse, não teria ficado como fiquei perante essas duas palavras: belo e texto.
Cumprimentos aceites e devidamente devolvidos.
Sófi é com imensa pena minha que não consigo publicar o teu comentário.
(Não sei o que se passa!)
Cumprimentos.
Ah, o mar...
Do lado de cá, sob o meu horizonte vejo tb o mar, oceano que banha beleza e sabedoria!
Adorei seu espaço, obrigada pela visita! Parabéns pelo seu olhar... até!
*Atualizei hj depois conferi!
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