sexta-feira, setembro 19, 2008

Noite feminina

Gosto das noites que não me exigem quase nada. Em que as conversas me obrigam a que seja apenas eu, sem tiques de sedução ou reflexos de maturidade. Normalmente, essas noites acontecem por acaso, não foi o caso da última.
Combinámos jantar de mulheres, num restaurante de um amigo. Bebericámos vinho e dedilhámos conversas. Ainda que tivéssemos conversas tipicamente femininas, não falámos sobre saias, camisolas, malas ou sapatos; o que prova que a substância do feminino não se resume a isso. Acho que falámos sobretudo de homens - sim, não desenvolvemos qualquer protótipo criativo para conversas de mulheres, nem essa era a nossa intenção - todavia, mais importante do que o assunto, foi a forma como se falou dele. E nós a três falámos dos homens como os homens falam das mulheres: recorrendo à frieza dos nomes próprios. Não houve nem pénis nem vaginas sentados à mesa connosco. Muito menos houve coito interrompido ou sexo oral. O nosso jantar parecia os encontros das grandes amigas de Sexo e a Cidade. Estava lá a Samantha, a Charlotte e a Miranda. A Carrie não pôde comparecer, está, por esta altura, a viver o seu conto de amor duradoiro com o homem que ama, mas senti tanto a sua falta.
De qualquer forma, uma coisa é certa, percebi que apesar de sermos tão diferentes, nos gostos, nas atitudes, nos estilos; queremos todas viver de forma intensa, dizer o que há para dizer, fazer o que tem de ser feito, sem medo, porque, no final, temos a certeza de que mais vale sofrer as consequências da entrega do que sofrer as consequências de não nos entregarmos. E isto faz-me lembrar a música cantada pelo Milton Nascimento, Caçador de Mim. Escutem-na aqui.
Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou-me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito à força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

5 comentários:

Ego. disse...

Não tens idéia de quanto tuas palavras me alcançaram...
E a letra da música então... chorei devo te confessar!
Milton um lindo e do meu país, orgulhosamente, é um ídolo admirável!

Bj p/ vc saudoso!atualizei o meu, entenderá a minha sensibilidade!

FigueiRita disse...

E eu que participei dela... Foi Tão Divertido... Adorei poder soltar-me sem preconceitos na linguagem e na atitude.... embora o amigo não nos tenha ligado pevas... tivémos um cicerone à nossa altura. :)

Sónia disse...

Oiço com frequência música brasileira e há cantores com os quais estabeleco laços tão fortes que me esqueço até da sua nacionalidade, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Adriana Calcanhoto, Maria Bethânia. Não é importante que eles sejam daqui ou dali, é importante, isso sim, aquilo que me fazem sentir e o alcance da sua mensagem musical. Fico contente que o meu texto te tenha alcançado a ti dessa forma. Um beijo.

Irashai: temos de repetir! Esquece o amigo, afinal, não está à nossa altura. Já o cicerone...

Anônimo disse...

Isto ainda me fez lembrar mais as saudades que tenho tuas!

Robson Ribeiro disse...

Mas é claro!
De que vale passar a vida toda
não-sendo?
Viver é uma delícia, e nós não devemos e não podemos "entornar essa caldo".

Ah! E a música brasileira (a boa música) encanta muito.

Belo blog, voltarei sempre!