Muitos tentaram.
Raros o conseguiram.
Nem mesmo as mulheres para se perceberem a si mesmas...
Vamos Lá Perceber as Mulheres, Mas Só Um Bocadinho é um monólogo interpretado pela psicóloga clínica, Marta Gautier, que está mais de duas horas a interagir com o público numa peça em que ninguém é actor. Não há ficção. E também não há cenário, pois, na verdade, aquilo não é teatro. Embora o espectáculo seja apresentado na sala de um teatro - no meu caso, no São Jorge - bem poderia ser em outro qualquer lugar. Desde que íntimo. Próximo. Confessional.
Mais do que entretenimento, ali a terapia desenvolve-se através - e por causa - do riso. As pessoas riem-se não só de si, dos seus, como também dos outros e, o melhor de tudo, com os outros.
Encenando pequenos episódios domésticos, Marta Gautier consegue iluminar aquilo que há de mais absurdo no ser humano - e não apenas nas mulheres.
Demasiado referencial, demasiado literal, demasiado mimético, falta ao espectáculo a dimensão teatral que permite o sonho, o devaneio, a liberdade. Ainda que no epílogo haja a tentativa (não conseguida) de resgatar as pessoas da sua comédia doméstica para as enfaixar contra a poesia da vida.
Não se dá pelo tempo passar, mas também não se dá qualquer mudança interior que a arte, tantas vezes, impõe.